Praias, música e cultura fazem do Rio de Janeiro uma cidade verdadeiramente maravilhosa.
Com 5,8 milhões de habitantes, a capital fluminense é o principal pólo turístico do país e, há décadas, um dos primeiros destinos lembrados por estrangeiros que planejam visitar a América Latina. Colaboram para a fama o Samba e o Carnaval, que em 2006 ganharam o complexo de lazer Cidade do Samba, na zona portuária.
Nos anos dourados, o Rio foi apresentado como um estado de espírito. "Pra que chorar, pra que sofrer? Se o sol já vai raiar, se o dia vai amanhecer..." O carioca autor da canção enxerga na paisagem poderes miraculosos, capazes de aliviar a dor, sobretudo a dor de cotovelo. Vinícius de Moraes, diplomata e sambista, compõe com centenas de artistas e escritores um acervo sentimental que faz os brasileiros acharem que conhecem o Rio sem terem ido lá.
Não existem praias e monumentos mais cantados em versos do que Ipanema, Copacabana e o Cristo Redentor, também exibidos à exaustão em novelas, filmes e telejornais. Mas qualquer tela será pequena para a Baía de Guanabara e para os contornos monumentais do relevo que enlaça a mata e o oceano. E a brisa dos trópicos só pode ser sentida no rosto ao vivo. Mesmo pilotos que enxergam tudo do alto pela enésima vez se surpreendem: haverá sempre uma espuma distinta nas ondas, um recanto onde uma chuva recente torna o verde gritante ou um corajoso montanhista tentando escalar a Pedra da Gávea.
La Ville Merveilleuse
Foi em francês que a expressão "Cidade Maravilhosa" se fez ouvir pela primeira vez, batizada assim por Jeanne Catulle Mendes, em 1912. Virou hino informal na marchinha de André Filho, no Carnaval de 1935, aquela dos "encantos mil" e "coração do meu Brasil". Entre uma e outra rima pobre, brotou na Avenida Atlântica o Copacabana Palace, hotel inaugurado em 1923 que estabeleceu novos padrões de luxo e glamour para a cidade.
O Rio tirou o posto de capital federal de Salvador em 1763 e perdeu o troféu para Brasília em 1960. Foi sede do império português a partir de 1808, do Brasil independente (ainda monarquista) e depois capital republicana. Os mais de 230 anos de supremacia na política rechearam a cidade de prédios históricos e acervos valiosos como a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes e o Teatro Municipal.
Um dia de chuva num balneário pequeno pode ser desesperador. Não no Rio: são dúzias de centros culturais e museus para visitar, alguns com paisagismo de Burle Marx, mais as igrejas de ricos interiores do Brasil Colônia e uma lista formidável de templos da gastronomia, da Confeitaria Colombo dos tempos de Olavo Bilac aos botequins freqüentados por celebridades e poetas contemporâneos.
As trilhas sonoras
É dos mais tristes paradoxos para o turista, este de precisar esconder as máquinas de filmar ou fotografar com medo de assalto, num dos lugares mais fotogênicos do planeta. Notícias diárias de violência urbana podem intimidar a viagem, como se os problemas originados pela desigualdade social não fossem alarmantes em todas as grandes cidades brasileiras.
O uso do transporte público requer cuidados. Na dúvida, é melhor optar pelo táxi ou pelos passeios em vans e jipes das agências locais de turismo. Prefira percorrer a região da Cinelândia nos dias de semana, em horário comercial. Não se vista como um extraterrestre endinheirado. Evite os parques e as feiras de camelôs à noite, obviamente, e utilize o cofre do quarto de hotel, se oferecido.
Bailes funk podem ser traumáticos, e ver as favelas como um equilíbrio exótico de submoradias também. Como escreveu o economista Carlos Lessa em "O Rio de Todos os Brasis", "o carioca não tem medo da multidão, tem medo, sim, da praça vazia".
Para branquelos em geral, a melhor parte de planejar uma viagem ao Rio não é ficar experimentando trajes de banho para desfilar no calçadão. Nem acreditar que, de tão acostumados que estão, os cariocas não caem mais na risada diante dos passistas desajeitados. Mesmo antes de percorrer a Lapa boêmia de Madame Satã, o bom é saber que a trilha sonora já vem pronta na cabeça.
Noel Rosa, Cartola, Tom Jobim, Vinícius, João Gilberto, Miúcha, Nara Leão, Chico Buarque, Elza Soares, Cazuza, Marina Lima e Paulinho da Viola, entre tantos outros, já desenharam a geografia física e sentimental da cidade. A segunda melhor parte é ficar na praia adivinhando em que grãos de areia ou quiosques esse pessoal andou pisando da última vez em que foi visto diante das ondas.
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